Nos primeiros nove dias de setembro, Mato Grosso do Sul registrou nove mortes por suicídio, o que equivale a um falecimento por dia, conforme apontam os dados do Sigo MS (Sistema Integrado de Gestão Operacional), gerenciado pelo governo estadual. O resultado já equivale à metade dos registros de anos anteriores, quando foram notificados 15 em setembro de 2021 e 14 em setembro de 2020.
Neste mês, é celebrado o “Setembro Amarelo”, que tem como foco a prevenção ao suicídio, que ganha destaque especial em campanhas no dia 10, quando é celebrado o “Dia Mundial de Prevenção do Suicídio”. A data foi escolhida em 2003 pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e a campanha é a maior antiestigmatizante do mundo. Em 2022, o lema é “A vida é a melhor escolha!”
A escolha da cor amarela está ligada à história de um norte-americano chamado Mike Emme, que se suicidou em 1994, aos 17 anos. Dono de um Mustang 68 na cor amarela, o jovem que era conhecido por seu carisma e amor por carros foi homenageado no funeral com uma cesta de cartões e fitas amarelas com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda”. A ação ganhou proporções e expandiu-se pelo país.
De acordo com o Coordenador do Curso de Prevenção de Suicídio da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Edilson Reis, a depressão é uma doença de comorbidade que, muitas vezes, a pessoa não aparenta estar doente. “A pessoa muda o comportamento e é um quadro progressivo, que pode se dividir em leve, severo, moderado e crônico”, explica.
Em crianças pode-se observar mudanças de humor como irritabilidade e agressividade. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Mortalidade por Suicídio, houve crescimento de 81% da mortalidade de jovens e adolescentes de 15 a 19 anos entre os anos de 2010 e 2019. Em menores de 14 anos, a alta na taxa de suicídios entre 2010 e 2013 foi de 113%.
Edilson também alerta que é preciso voltar a atenção para idosos, que muitas vezes escondem as manifestações de sintomas. “Ele precisa passar por uma avaliação médica e de um psicólogo credenciado no conselho de psicologia, com número ativo. A grande preocupação hoje em dia são pessoas que dão diagnóstico, falam de depressão, mas não têm a competência técnica necessária de um profissional”, alerta.
Entre os sintomas da depressão estão:
- Perda ou ganho de peso;
- Distúrbio de sono;
- Fadiga ou perda de energia constante;
- Sentimento permanente de culpa e inutilidade;
- Dificuldade de concentração;
- Ideias suicidas (pensamentos recorrentes de suicídio ou morte);
- Baixa autoestima;
- Alteração da libido.
O especialista Edilson afirma que a depressão é uma doença negligenciada, subnotificada e extremamente estigmatizada. “Nós precisamos entender que a depressão é uma doença semelhante ao câncer e hepatite, por exemplo, mas é tão difícil devido ao estigma das doenças mentais”, explica.
Uma das categorias que mais sofre com esse “tabu” sobre doenças mentais são os policiais, grupo em que o suicídio cresceu 55% entre 2020 e 2021, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
“Os policiais absorvem muita carga emocional negativa, presenciam coisas pesadas no dia a dia. É forte em nosso meio a cultura da autossabotagem e o tabu de não poder demonstrar fraqueza. Também há a questão de que os policiais são treinados para resolver problemas ‘e não para apresentá- los’. Diante desse cenário, muitos têm dificuldade em pedir ajuda”, enumera o Capelão da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul, André de Souza Rodrigues.
No Estado, a Polícia Civil tem uma Coordenadoria de Atendimento Psicossocial e Espiritual, composta por três setores: Capelania, Psicologia e Serviço Social, que oferece apoio psicológico aos agentes (confira mais detalhes abaixo). Conforme explica André Rodrigues, o serviço já teve êxito em casos de prevenção de suicídios de policiais. “É um trabalho conjunto desde o governador, passando pelo secretário da Sejusp, delegado geral, e demais funcionários que são solidários uns aos outros, envolvidos para combater esse mal que tem nos assolado ultimamente”, afirma.
Confira mais detalhes sobre depressão e suicídio:
Sinais de alerta:
• Afastamento das pessoas, até mesmo das mais próximas;
• Desesperança quanto ao futuro;
• Sentimentos negativos frequentes e duradouros;
• Baixa autoestima;
• Mudança de comportamento.
Frases também podem emitir alertas, como por exemplo:
• "Não tenho mais vontade de fazer nada";
• "Não vejo mais sentido em viver";
• "Queria dormir e não acordar mais".
Fatores de risco:
• Doença mental;
• Isolamento;
• Doenças crônicas;
• Uso de drogas (lícitas ou ilícitas);
• Histórico familiar e genético;
• Sentimentos de desesperança, desespero e desamparo.
Como ajudar?
• Acolher;
• Empatia;
• Olhar com amor para o próximo;
• Valorizar a dor do outro;
• Não fazer julgamentos e nem sermões;
• Oferecer ajuda.
Fatores Protetivos:
• Autoestima elevada;
• Capacidade de solucionar problemas;
• Capacidade em adaptação;
• Psicoterapia;
• Vida social ativa;
• Suporte familiar;
• Espiritualidade;
• Exercícios físicos.
Onde conseguir ajuda psicológica em MS?
O especialista Edilson Reis explica como apoiar uma pessoa que está com depressão ou pensa em suicídio. “O que uma pessoa em sofrimento quer? Ela quer alguém para ouvi-la, alguém que se importe e não quer ficar sozinha. Mesmo assim, a pessoa às vezes comete suicídio porque a dor de viver é maior, mas não podemos julgar e nem condenar, precisamos respeitar”, explica Edilson.
Em Mato Grosso do Sul, há diversos programas de apoio psicológico em que o cidadão pode procurar ajuda.
GAV (Grupo Amor Vida): presta serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone: 0800 750 5554 (ligação gratuita) ou pelo e-mail precisodeajuda@grupoamorvida.ong.
Coordenadoria de Atendimento Psicossocial da Polícia Civil (exclusivo para agentes e familiares): conta com equipe multidisciplinar de psicologia, serviço social e capelania. Fazem plantão psicológico e encaminhamentos junto aos planos de saúde. Mais informações pelo telefone (67) 99627-6178.
CVV (Centro de Valorização da Vida): oferece apoio emocional e prevenção do suicídio de forma gratuita, todos os dias, pelo telefone 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
CAPS (Centros de Atenção Psicossocial): De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), qualquer pessoa pode ir até a uma unidade, onde será acolhida e passará por uma avaliação do quadro clínico em que será determinado se é necessário um atendimento médico ou psicológico de urgência - o que acontece em caso de crise - ou se poderá ser encaminhado a uma unidade básica para que inicie o protocolo de acompanhamento, por meio de encaminhamento. Confira aqui a lista e endereço dos CAPS em Campo Grande.