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Sob pressão, Ceni completa um ano no São Paulo com dúvidas sobre 2023

A fase talvez seja a mais conturbada desde que Ceni chegou.



Rogério Ceni em São Paulo x Independiente del Valle — Foto: Marcelo Endelli/Getty Images

Rogério Ceni completa, nesta quinta-feira, um ano no comando do São Paulo. O técnico alcança a marca em um momento de pressão por resultados, dúvidas sobre seu futuro no clube, cobranças por melhorias na estrutura e por um planejamento para 2023.

A atual passagem pelo São Paulo, a segunda desde que se tornou treinador, é marcada por altos e baixos dentro de campo e por uma série de fortes declarações que mexeram com os bastidores nesses últimos 365 dias.

A fase talvez seja a mais conturbada desde que Ceni chegou. Recentemente, colocou em dúvida sua permanência no clube para 2023, mas recuou nos últimos dias e indicou para a direção que vai ficar. O técnico não esconde que sentiu bastante a derrota na final da Copa Sul-Americana para o Independiente del Valle.

No Campeonato Brasileiro, o São Paulo de Ceni patina entre vitórias convincentes e derrotas decepcionantes. A vaga para a próxima Libertadores vai ficando cada vez mais distante, o que vai acarretar em um orçamento ainda menor para a próxima temporada.

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Mas nem tudo é visto como terra arrasada por Rogério Ceni. Apesar dos duros golpes na final do Paulistão, quando perdeu o jogo de volta por 4 a 0 após abrir 3 a 1 na ida, e na final da Copa Sul-Americana, somente o fato de chegar às decisões é celebrado.

Outro ponto positivo citado por técnico e diretoria é a Copa do Brasil. A meta do clube era chegar às quartas de final, mas a equipe superou a projeção e só caiu nas semifinais diante do Flamengo.

Nesta atual passagem, Ceni teve à frente da equipe em 80 jogos, com 36 vitórias, 22 empates e 22 derrotas.

Extra-campo
Este um ano de Rogério Ceni no comando também é marcado pelas fortes declarações do treinador. Os microfones se tornaram um grande aliado do ídolo são-paulino em busca de mudanças no clube e cobranças em diversos setores.

Após pouco mais de um mês desde a sua contratação, o técnico fez o primeiro desabafo após o empate sem gols contra o Athletico, no Brasileirão do ano passado. O time estava correndo risco de rebaixamento naquele momento.


– As dificuldades existem e têm que ser explicadas ao torcedor. Ele tem que ajudar, tem que ser paciente, vai ter que ajudar muito o São Paulo nesse momento. É um momento crítico da história do clube. Acreditem no que estou falando para vocês. Para quem viveu aqui 26 anos, voltando agora, pelos últimos 31 anos, é um momento crítico, difícil – afirmou o técnico.

O Tricolor se livrou do rebaixamento ao fim da temporada passada, mas o início desta reservava palavras ainda mais fortes de Ceni. As mais emblemáticas delas aconteceram em 10 de fevereiro deste ano:
– Meu relacionamento com jogadores, funcionários... Eu conheço os mesmos porteiros e o pessoal da cozinha há 20 anos. Cumprimento todos, trato bem todos. Tem departamento que precisa melhorar mesmo. Quando eu cheguei não tinha água na piscina, tinha cadeira e mesa. Eu sou o cara chato que pediu para colocar água na piscina – disse Ceni.
– Penso no melhor do clube, com um período a mais de tratamento, disponibilizar condições para voltar mais rápido. Talvez, eu incomode esses departamentos. Eu quero o bem do São Paulo, se isso for ruim, cobrar melhora na condição física – acrescentou.

A declaração mexeu com as estruturas do clube. Diretores passaram a se movimentar mais por melhorias e, entre torcedores, emprestaram a Rogério a credibilidade que o ex-goleiro cultivou por anos no único clube que defendeu. Tornou-se o homem ideal para chacoalhar e tirar da inércia aqueles com poderes para acelerar mudanças necessárias.
A partir deste momento, Ceni teve tranquilidade e respaldo das arquibancadas e da diretoria para seguir seu trabalho. Os resultados começaram a aparecer, como o vice do Paulistão e os avanços na Copa do Brasil e Sul-Americana.

Fica ou sai?
Há quase um mês, Rogério Ceni foi a uma entrevista coletiva para sacudir o ambiente novamente. Em mais um episódio de falas emblemáticas, citou atrasos nos pagamentos de jogadores e comissão, a pressão do cargo e deixou seu futuro em aberto no comando do São Paulo.
– Você acha que eu trabalho aqui pelo meu salário? Que eu estou preocupado com os meses que estão atrasados de imagem? Eu estou aqui para ajudar. Se eu não sou o cara certo... Treinador no Brasil tem de monte.
– Acha que eu estou preocupado com minha multa rescisória? Façamos o seguinte: dia primeiro (de outubro), se não ganhar (a Sul-Americana), abro mão da minha multa rescisória e vou embora sem problema.

O São Paulo perdeu a final da Copa Sul-Americana e Rogério Ceni não definiu se fica ou se sai na próxima temporada. No último domingo, após derrota para o Botafogo, declarou que seu desejo é permanecer, mas depende de alguns fatores para isso.
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Na última terça-feira, ele se reuniu com a diretoria e reafirmou o desejo de permanecer. Ouviu dos dirigentes de que haverá a injeção de recursos para novas contratações e um time mais competitivo para 2023. O lugar na tabela do Brasileirão, porém, pode ser determinante para o futuro.
Com essa incógnita, o treinador terminará a temporada sem títulos e com a missão de levar o Tricolor para a próxima Libertadores. Para isso, tenta ficar próximo dos sete primeiros colocados do Brasileirão e busca uma retomada.
A próxima chance dessa reviravolta será no próximo domingo, às 16h, diante do Palmeiras, no Allianz Parque. Uma vitória pode dar um ânimo final. Uma derrota pode decretar um final de ano (ou até de trabalho) melancólico e de celebrações pontuais.