O governo do Estado vai cobrar do governo federal investimentos em projetos de reestruturação da segurança das fronteiras com o Paraguai e Bolívia por Mato Grosso do Sul. A fuga em massa ocorrida no domingo, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, quando 75 integrantes da facção criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC) escaparam da unidade – com possível passagem desses foragidos para o Brasil –, colocou à mostra, mais uma vez, a necessidade de melhorias nas estruturas físicas e de efetivo na região.
Nesta terça-feira, o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, viaja para Brasília, onde, além da participar da reunião ordinária do Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp), vai tentar uma audiência com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
A ideia é apontar a urgência em se promover investimentos na região de fronteira, que além de ser porta de entrada da maior parte das drogas (cocaína e maconha) que entram no País, também favorece a ação de traficantes de armas e munições, assim como de contrabandistas, atraindo a presença de facções como o PCC.
Com a fuga de domingo, cerca de 200 policiais foram mobilizados para ações de busca aos criminosos, mas, apesar dos recursos como viaturas e até um helicóptero movimentados pela Segurança Pública, ainda é insuficiente para cobrir de forma eficiente toda a faixa de fronteira seca com o país vizinho.
O governo do Estado pretende chamar a atenção de Moro para Mato Grosso do Sul e desenterrar todos os projetos até agora ignorados pelo governo federal quanto à segurança das fronteiras. Além de grande parte da população penitenciária estadual ser oriunda do tráfico, há o fato de as estruturas federais estarem praticamente abandonadas na região.
Há muitos anos, por exemplo, a Polícia Federal aguarda a construção de uma nova delegacia em Ponta Porã, uma vez que o prédio em uso não atende às necessidades mínimas, além da falta de efetivo, viaturas e outros equipamentos.
O mesmo problema ocorre com a Polícia Rodoviária Federal, que também enfrenta dificuldades diante de um efetivo reduzido. Situação semelhante também é vivida em Corumbá.
Em dezembro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública inaugurou em Foz do Iguaçu (PR) o Centro Integrado de Operações de Fronteira (Ciof), deixando de priorizar Mato Grosso do Sul, cujas características apontam para maior urgência. O centro é considerado pelo ministério como “estratégico” no enfrentamento ao crime organizado, principalmente na luta contra os ilícitos transfronteiriços, como o tráfico de drogas e armas, o financiamento ao terrorismo, a lavagem de dinheiro e o crime organizado em si.
BUSCAS POR FUGITIVOS
As buscas pelos fugitivos de Pedro Juan Caballero continuam, com pontos de bloqueio e diligências em várias áreas da fronteira, tanto no lado brasileiro quanto no paraguaio. Nesta segunda-feira, dois deles foram recapturados.
O primeiro é o brasileiro Luís Alves da Cruz, que também usava documento falso em nome de Eduardo Alves da Cunha. Ele foi detido por policiais do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), no Assentamento Itamarati, a 49 quilômetros de Ponta Porã.
Mais tarde, a Polícia Nacional paraguaia prendeu Sabio Darío González Figueredo, que estava escondido em uma casa no Bairro de San Juan, próxima à penitenciária de Pedro Juan Caballero.
A fuga aconteceu na madrugada de domingo, quando 75 presos escaparam por um túnel. Dos fugitivos, 40 são brasileiros e 35 paraguaios e, segundo o Ministério da Justiça do Paraguai, são integrantes do PCC.
SUSPEITOS
A ministra da Justiça do país vizinho, Cecilia Perez, afirmou que sua pasta denunciou ao Ministério Público um suposto plano de fuga e pagamento de 80 mil dólares por parte de integrantes da facção criminosa a funcionários da prisão de Pedro Juan Caballero.
Por conta dessas suspeitas de facilitação de fuga, o Ministério Público determinou a prisão do diretor da penitenciária e de 30 agentes que trabalham na segurança do local. Durante depoimento nesta segunda-feira, todos eles preferiram ficar em silêncio.
O vice-ministro de Política Criminal do Paraguai, Hugo Volpe, renunciou nesta segunda. O Ministério da Justiça do Brasil comunicou na noite de domingo que ele estaria envolvido em uma investigação que apontava corrupção policial. Já o fiscal (promotor) Armando Cantero foi demitido pela procuradora-geral do Paraguai.