Transparência

Um mês depois, Reinaldo oficializa pedido de viagem para ‘esquentar’ pescaria chique na Argentina

Documento protocolado nesta quarta-feira (5) na Assembleia pode invalidar atos oficiais de janeiro



(Foto: Reprodução, Instagram)

Um mês depois de deixar o Brasil para pescar com amigos e integrantes da cúpula do Governo na Argentina sem tirar férias, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) protocolou, nesta quarta-feira (5), um ofício informando à Assembleia Legislativa que deixaria o comando de Mato Grosso do Sul entre os dias 6 e 10 de janeiro.

O aviso retroativo só foi oficializado à presidência da Assembleia nesta quarta e contraria afirmação do próprio governador Reinaldo Azambuja, que em agenda pública na semana passada, disse que não precisaria solicitar autorização para a viagem.

Conforme a Constituição de Mato Grosso do Sul, o governador pode se ausentar do Estado e até do Brasil pelo período de até 15 dias sem que autorização seja solicitada à Assembleia Legislativa.

No período em que Reinaldo estava fora do Estado, já em viagem, o Diário Oficial do Estado trouxe uma série de decretos assinados pelo governador. No entanto, com base no ofício apresentado nesta quarta na Assembleia, Reinaldo estava licenciado do cargo de governador e o vice, Murilo Zauith (DEM), é quem deveria ter assinado os atos oficiais do período.

“Comunicado a essa douta Casa de Leis, por intermédio da Vossa Excelência, que irei me licenciar do exercício das funções de Governador do Estado, de 06 a 10 de janeiro, período em que poderia me ausentar do Estado e do País. Informo ainda que, durante minha ausência, a chefia do Poder Executivo será exercida pelo vice-governador do Estado, Murilo Zauith”, informou o governador no ofício datado de 19 de dezembro, mas só protocolado nesta quarta-feira.

(Foto: Reprodução, SGPL)
 

Entre as publicações assinadas por Reinaldo no período em que oficialmente ele estava licenciado do cargo estão aberturas de crédito suplementar publicadas nas edições do Diário Oficial dos dias 7, 8 e 9 de janeiro, todas datadas no período em que o governador não estava no Estado.

As publicações oficiais só pararam depois que o Jornal Midiamax revelou o paradeiro do governador, que estava em pousada localizada em Corrientes, na Argentina.

Fontes ligadas ao Governo ouvidas pela reportagem afirmam que a justificativa oficial do governador para a apresentação retroativa do pedido deve ser o recesso parlamentar dos deputados. Nesta quarta-feira aconteceu a primeira sessão ordinária de 2020.

No entanto, o Governo afirmou oficialmente ao Jornal Midiamax na época da apuração, que Reinaldo estaria ‘trabalhando em agendas internas no gabinete recebendo gestores com diversas demandas’. Agora, o comunicado sobre a viagem desmente oficialmente a informação da Secretaria de Governo.

A reportagem entrou novamente em contato com a comunicação do Governo, nesta quarta-feira, para mais detalhes sobre os decretos publicados por Reinaldo enquanto estava licenciado, e aguarda retorno.

O ofício integra Projeto de Decreto Legislativo 001/2020 protocolado nesta quarta e que está tramitando na Assembleia Legislativa. A tramitação pode ser acompanhada diretamente no sistema do legislativo estadual de MS.

Pescaria de rico

Localizada em Itá Ibaté, na província de Corrientes, na Argentina, o pesqueiro Gêmeos Pesca cobra de cada um dos clientes pelo menos R$ 1 mil, em pacote que contempla pescarias e hospedagem para três. No caso de uma dupla, com os mesmos itens, o valor sobe para R$ 1,1 mil cada hóspede. Além da pescaria e da hospedagem, o pacote turístico inclui desde praia privativa aos hóspedes, open food e open bar, até uma luxuosa lancha para a prática de pescaria esportiva.

Apesar de estar localizado em ‘solo hermano’, os responsáveis pela pousada garantem translado exclusivo ao cliente a partir de Foz do Iguaçu, Paraná. Os meios de transporte variam e o hóspede pode optar desde ser levado por ônibus ou em um veículo do tipo Mitsubishi Pajero.

Caso opte por chegar à pousada  no veículo de luxo, o cliente desembolsa R$ 2,5 mil para um translado de 466 km percorridos em 6 horas de viagem. Valor este sem contar a diária já citada.

Ao chegar na pousada do pesqueiro, os clientes ganham um pernoite que não é cobrado, que já inclui um jantar. No apartamento, podem usufruir de uma suíte com banheiro privativo, ar condicionado, frigobar com consumo “na faixa” e wi-fi – para os hospedes brasileiros, a TV a cabo conta com canais nacionais. Além de tudo, estarão à disposição piscina e jacuzzi com vista para a imensidão do Rio Paraná.

Na hora do lazer, os pescadores contam com um guia nativo, mas que compreende o português perfeitamente, segundo a descrição do próprio pesqueiro. A lancha, revestida em fibra de vidro e motor potente de 115 HP, fica disponível por tempo ilimitado ao cliente. Durante a pesca, ele ainda tem lanche e bebida incluídos.